quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

De qual ‘ameaça à humanidade’ estamos falando?




Na semana passada, o circuito de discussão católico nas redes sociais foi dominado pelas ofensas do Deputado e ativista gay, Sr. Jean Wyllys, contra uma suposta declaração – melhor dizendo: uma não declaração (ver Aqui) – do Papa Bento XVI de que o casamento gay seria uma “ameaça à humanidade”. Este artigo não irá tratar de responder as declarações do deputado, haja vista considero-as magistralmente respondidas – e sem qualquer prejuízo em virtude do uso da linguagem em tom irreverente - pelo blog ‘O Catequista’ (ver Aqui). Sendo assim, tratarei do assunto sob outra ótica: o Magistério da Igreja (que sempre orientou a seus membros para o dever do respeito e do amor a pessoa homossexual) e a zona de tensão criada pelo ativismo gay que quer, a todo custo, impor a sociedade sua agenda cultural fundada em ‘valores da cultura gay’.

Os grupos de ativismo gay, reiteradamente, alegam que a Igreja mantém um discurso intolerante e que atenta contra a esfera da dignidade dos homossexuais. Ocorre, porém, que o que eles chamam equivocadamente de ‘discurso contra a dignidade dos homossexuais’, em verdade, é a orientação da Igreja aos seus fiéis para a defesa dos preceitos da moral cristã. Vale dizer, regras que constituem o arcabouço moral do cristianismo. É a moral cristã ditada pela Igreja de Cristo aos seus membros. Não se trata de ‘discurso’, muito menos, de preconceito!

Notem que não assistimos - ao menos com a mesma frequência que vemos nos grupos de ativistas gays -, impropérios por parte de grupos heterossexuais contra a Igreja ou seus membros por difundirem orientações, tais como: a prática do sexo somente no matrimonio entre um homem e uma mulher; restrições ao uso do preservativo nas relações sexuais; monogamia e fidelidade conjugal e extra-conjugal, etc. Ofensas virulentas, em geral, só encontramos por parte dos  ativistas gay's, o que me faz pensar que esses grupos são, de fato, o que há de mais intolerante, fundamentalista e perigoso dentro da Sociedade Civil Organizada.

Outra questão a ser desmistificada é a de que a Igreja encampa uma luta contra direitos estendidos a pares homossexuais que têm vida em comum. É uma mentira! Há muito tempo o Estado vem reconhecendo direitos de ordem previdenciária (p. ex: pensão por morte) e sucessória (p. ex: herança) a homossexuais que vivem em união de fato. A Igreja nunca levantou questão quanto a essas conquistas dos homossexuais. Pôs-se contra a legalização do casamento gay em virtude do seu reconhecimento como entidade familiar e, por conseguinte, do direito a adoção de crianças. A Igreja entende que isso contraria as leis naturais, além de subverter princípios do cristianismo. Isso é um direito que lhe assiste num Estado laico e democrático.

A Igreja Católica nunca perseguiu homossexuais, nem fora, nem dentro de sua instituição. Seu catecismo reflete essa verdade. Vejamos o que diz:

"No que respeita às tendências homossexuais profundamente radicadas, que um certo número de homens e mulheres apresenta, também elas são objectivamente desordenadas e constituem frequentemente, mesmo para tais pessoas, uma provação. Estas devem ser acolhidas com respeito e delicadeza; evitar-se-á, em relação a elas, qualquer marca de discriminação injusta. Essas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que possam encontrar."[4]

O Magistério da Igreja tem sido reiterado nesse sentido, sem apelar para qualquer inovação demagógica ou destoante dos princípios cristãos. A mesma orientação é reproduzida em seus ‘critérios vocacionais para o sacerdócio’, mais precisamente, no tópico sobre ‘A homossexualidade e o ministério ordenado’. Vejamos:

“[Não serão admitidos] ao Seminário e às ordens sacras aqueles que PRATICAM o homossexualismo, apresentando tendências homossexuais PROFUNDAMENTE RADICADAS ou DEFENDEM a chamada cultura gay", por outro lado, a Igreja reconhece que essas tendências homossexuais arraigadas “constituem frequentemente, mesmo para tais pessoas, uma provação”. MAS que essas pessoas “devem ser acolhidas com respeito e delicadeza” e “evitar-se-á, em relação a elas, qualquer maneira de discriminação injusta.”

Ao final do tópico, o documento deixa claro que o fato de ter tendências homossexuais, por si só, não fará o candidato ser alijado sumariamente de suas pretensões ao sacerdócio. Vejamos o que diz:

“DIVERSAMENTE, no caso de se tratar de tendências homossexuais que sejam APENAS EXPRESSÃO DE UM PROBLEMA TRANSITÓRIO como, por exemplo, o de uma adolescência ainda não completa, elas devem ser CLARAMENTE SUPERADAS, pelo menos TRÊS ANOS ANTES DA ORDENAÇÃO DIACONAL.”

Quanto ao posicionamento da Igreja em relação ao reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais, a Santa Sé emitiu a seguinte declaração:

"Nas uniões homossexuais estão totalmente ausentes os elementos biológicos e antropológicos do matrimónio e da família, que poderiam dar um fundamento racional ao reconhecimento legal dessas uniões. Estas não se encontram em condição de garantir de modo adequado a procriação e a sobrevivência da espécie humana. A eventual utilização dos meios postos à sua disposição pelas recentes descobertas no campo da fecundação artificial, além de comportar graves faltas de respeito à dignidade humana, não alteraria minimamente essa sua inadequação." (...)

E arremata, discorrendo sobre adoções de crianças por pessoas que integram uniões homossexuais:

"Como a experiência confirma, a falta da bipolaridade sexual cria obstáculos ao desenvolvimento normal das crianças eventualmente inseridas no interior dessas uniões. Falta-lhes, de facto, a experiência da maternidade ou paternidade."

Ora, esses são exemplos incontestáveis de que as restrições da Igreja a união de homossexual não são fundadas apenas em princípios cristãos, mas, também, em fatores biológicos, antropológicos, sociológicos, etc. A Igreja não discrimina homossexuais, pura e simplesmente, por serem... homossexuais! A Igreja de Cristo sabe que o pecado é imanente ao ser humano; tanto quanto reconhece - e está atenta - às dúvidas científicas que pairam sobre a causa originária da homossexualidade. Jamais irá pregar o ódio e o preconceito contra essas pessoas. Muito pelo contrário, quer acolhê-las no amor desmedido de Jesus. A Igreja é Santa, mas, também, reconhece que é, por excelência, uma comunidade de pecadores em comunhão com o Cristo. 

Por outro lado, a Igreja também não quer uma comunidade de pecadores hipócritas que se deixa guiar ao sabor dos ventos do relativismo e da conveniência moral e, por isso, deixa claro aos seus membros – candidatos ao sacerdócio ou não; com ou sem tendências homossexuais transitórias (ou não) – que devem superar as adversidades do seu ser; as fragilidades d’alma corrompida para, então, viver uma vida em perfeita comunhão com o Cristo Jesus.

O critério de uma vida sexual, conforme os preceitos cristãos, é o mesmo para qualquer católico, seja heterossexual ou homossexual, a saber: renunciar ao cultivo de hábitos que levem a uma vida sexual desregrada. No caso dos leigos, aponta-se para uma vida de castidade ou da prática sexual dentro do matrimonio constituído entre um homem e uma mulher. No caso dos sacerdotes ou de candidatos ao sacerdócio junto a Igreja – em regra* -, uma vida celibatária.

Quanto as críticas por parte de alguns ativistas pela tipificação da prática homossexual como ato pecaminoso, particularmente, desconfio que não seja um temor por conta de possíveis consequências no plano espiritual, mas, com certeza, porque o cristianismo difunde e forma convicção entre os que creem no Verbo de Cristo que a prática homossexual é um pecado, o que para os ativistas será sempre um obstáculo a seus projetos de difundir e impor a cultura gay as novas gerações. Portanto, difundir o cristianismo hoje em dia, se tornou um entrave ao projeto de expansão da cultura gay promovida por esses ativistas e, por isso, a guerra para destruir a Igreja e o cristianismo.

A mesma coisa pode-se dizer da reação desses ativistas em relação a estudos científicos sobre possibilidades terapêuticas e tratamentos para inibir ou superar tendências homossexuais. Esses estudos tem enfrentado forte oposição desses ativistas. Ao que tudo indica, querem impedir a normatização científica de que a homossexualidade é um fenômeno incomum na espécie humana. O ser humano é acometido de diversas disfunções. Ora, buscar um tratamento - frise-se: que respeite a dignidade humana -, não pode gerar qualquer problema, a não ser aos olhos de certos ativistas que mais parecem preocupados em garantir uma reserva de mercado para a causa gay e viver da garantia do dinheiro público para suas ONG’s e para suas campanhas milionárias.

Enfim, a luta dos ativistas gay’s se transformou num projeto para impor uma agenda cultural e  difundir o homossexualismo como uma prática comum entre os seres humanos. Talvez seja esse o motivo mais evidente porque o Papa Bento XVI jamais diria que o casamento gay, por si só, ‘ameaça a humanidade’, já que difusão da ‘cultura gay’ e da prática do homossexualismo como algo a ser acolhido e adotado naturalmente pelas gerações futuras - isto sim! - representa uma 'ameaça à humanidade'!


Por Mino Neto.



Notas:


1) Instrução sobre os critérios de discernimento vocacional acerca das pessoas com tendências homossexuais e da sua admissão ao seminário e às ordens sacras.
2) Carta Homosexualitatis problema(n. 3)
3) Carta sobre a cura pastoral das pessoas homossexuais – Homosexualitatis problema
4) Cf. Congregação Para a Educação Católica: A memorandum to Bishops seeking advice in matters concerning homosexuality and candidates for admission to Seminary (9 de Julho de 1985)

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